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O livro dos Salmos é o maior em volume de toda a Bíblia, formando uma coleção de 150 cânticos,
poemas, orações e predições que expressam as mais profundas paixões da humanidade. Os
rabinos o denominam de “O livro dos louvores”. Os salmos foram escritos num decurso de mil
anos, de Moisés, cerca de 1440 a.C, até o pós-exílio babilônico, início do século V a.C. O Salmo
mais antigo é o 90, composto por Moisés, e o mais recente é o 137, de autoria humana
desconhecida. Os salmos, como toda a Escritura, foram inspirados por Deus e são úteis para o
ensino, correção e educação (2Tm 3.16).
Originalmente, o livro dos salmos foi dividido em cinco livros ou coletâneas (1-41; 42-72; 73-89;
90-106; 107-150), e cada um desses livros termina com uma doxologia, expressão de exaltação
à eternidade, soberania e bondade de Deus (Sl 41.13; 72.18,19; 89.52; 106.48). O último salmo,
o de número 150, é de todo uma doxologia final. A tradição judaica admitiu a divisão em cinco
livros sob alegação de que refletiam os cinco livros de Moisés, o pentateuco.
É atribuída à Davi a autoria de 73 dos salmos, 1 a Moisés, 12 a Asafe, 12 aos filhos de Corá, 2 a
Salomão e 1 a Etã, somando-se 101 salmos de autoria humana conhecida. Além dos cânticos
que compõe o livro dos Salmos, pelo menos outras 12 composições são encontradas ao longo
das Escrituras Sagradas, como os dois cânticos de Moisés, um após a travessia do mar Vermelho
(Êx 15. 1-19) e outro, cerca de 38 anos depois, já próximo de sua morte, após relembrar o povo
de Israel sobre os mandamentos divinos (Dt 32. 1-47); o cântico de Débora e Baraque, após a
vitória sobre os inimigos de Israel (Jz 5.1-31); o cântico das mulheres, após a vitória de Davi sobre
Golias e seus inimigos (1Sm 18.7); o cântico de Ana, após Deus lhe abrir a madre lhe conceder
filhos (1Sm 2.1-10); o cântico de Davi no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos
(2Sm 22); o cântico de Ezequias, após sua cura de uma enfermidade mortal (Is 38.9-20); o
cântico de Habacuque, após receber resposta às suas orações (Hb 3.17-19); o cântico de Maria,
após receber a visita do anjo Gabriel que lhe informara que ela seria a mãe do Messias (Lc 1. 46-
55); o cântico de Zacarias, após o nascimento de seu filho, João Batista (Lc 1. 67-79); o cântico
de Paulo, exaltando a magnificência e a glória de Deus (Rm 11.33-36); o cântico dos quatro seres
viventes e dos vinte e quatro anciãos ao redor do trono de Deus, após O Cordeiro de Deus tomar
o livro da História final da humanidade da mão do Pai, livro este selado com sete selos (Ap 5.8-
10). O cântico de Moisés(Êx 15.1-19) e o cântico do Cordeiro (Ap 5.8-10),são entoados nos céus,
pelos remidos salvos durante a grande tribulação (Ap 15. 2-4), celebrando a libertação da
escravidão do Egito, por Moisés, e a libertação da escravidão dos pecados, por meio de Cristo.
Uma coletânea de quinze salmos (120 ao 134) é destacada no livro, denominada de “Cânticos
de Romagens”, “Cânticos dos Degraus”, “Cânticos das Subidas” ou “Cântico das Peregrinações”.
Dentre vários entendimentos sobre o porquê desses salmos terem sido selecionados com essa
denominação e sequencialmente, tem sido a de que tais salmos eram entoados pelos judeus em
sua peregrinação até à chegada ao templo, a fim de celebrarem as festas anuais, após o exílio.
Esses quinze salmos formam um pequeno grupo de quinze salmos que podem ser divididos em
cinco grupos de três salmos cada, sendo que a maioria deles não passa de oito versos, à exceção
do Salmo 132, com dezoito versos.
Dentre os “Cânticos das Peregrinações”, destacamos o Salmo 126, que podemos denominá-lo
de cântico da restauração. Este salmo será o foco dessa mensagem. Considero oportuna a
escolha desse salmo, como prelúdio das expectativas para um novo ano, pois nele estão contidas
a história de restauração de Judá sob três aspectos: passado, presente e futuro. Os versos 1 ao
3 dizem sobre a restauração ocorrida no passado, o verso 4 diz sobre a necessidade de
restauração no presente e os versos 5 e 6 apresentam as condições para se obter a restauração
no futuro. A presença de Deus é imprescindível e indispensável nesses três momentos, pois
somente Ele pode garantir e produzir a restauração do seu povo, de sua igreja, de seus fiéis.
No verso 1, o autor expressa o sentimento de surpresa e admiração dele e da nação de Judá,
pela milagrosa restauração da condição a que ele e Judá viviam no cativeiro babilônico, como
podemos observar em suas palavras; “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como
quem sonha”. Ele atribuiu a Deus o fato de terem sido reconduzidos à sua pátria. O sábio
salamão disse certa vez que “a esperança demorada enfraquece o coração” (Pv 13.12a). Apesar
da promessa da repatriação (Jr 30.3), o tempo do exílio foi o bastante para enfraquecer o coração
dos judeus, por isso o espanto do salmista com essa restauração.
Para melhor entendimento desse cântico tão marcante na história do povo de Deus, faz-se
necessário aludirmos às condições de Judá antes do exílio. A nação se encontrava afundada na
idolatria, na depravação ética e moral, desde o mais simples vassalo até o monarca, desde o mais
novo levita até o sumo-sacerdote, todos vivendo em total desobediência aos mandamentos da
Lei divina. O Senhor Deus havia levantado diversos profetas para alertar a Judá de seus erros,
inclusive, de lembrá-la de seus irmãos, o reino do Norte, que pelo cometimento dos mesmos
erros, haviam sido exiliados pelos seus inimigos, os assírios, décadas atrás.
Por derradeiro, o Senhor Deus havia levantado no meio de Judá o profeta Jeremias, que durante
40 anos, conclamou o povo ao arrependimento e o alertou sobre o exílio de 70 anos, caso não
se arrependesse (Jr 25.11) “Toda essa terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta anos.”. O pior aconteceu, em três momentos: 1) o povo de Judá foi sitiado;
2) vários judeus foram mortos à espada ou pela fome, mulheres, crianças e os jovens
sobreviventes foram exiliados; 3) as casas foram derrubadas e queimadas, juntamente com o
templo, o palácio do rei e as principais edificações de Judá. O cerco de Jerusalém foi tão intenso
que inspirou o profeta Jeremias a escrever que “Mais felizes foram as vítimas da espada do que
as vítimas da fome” (Lm 4.9). Cumpriu-se a palavra de Deus dissera através de Jeremias, acerca
de Judá: “Passou a sega, findou o verão e nós não estamos salvos” (Jr 8.20).
Agora, setenta anos haviam se passado, desde a destruição do templo. Amparados pelo decreto
do rei persa Ciro (Ed 1.1-4), as primeiras levas de judeus começam a retornar a Jerusalém, ao
território de Judá e Israel. A repatriação foi como um sonho para os judeus, especialmente para
o compositor do Salmo 126. Era quase inacreditável! Depois de várias décadas vivendo no exílio,
sem liberdade, sem o templo, oprimido, triste e envergonhado; por intervenção divina, Judá
retorna milagrosamente à sua pátria. O compositor do Salmo 137 retrata a condição emocional
de Judá durante o exílio: “Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade
de Sião” (Sl 137.1).
Outrora, vivíamos também exilados, como escravos do pecado e do mundo. Não tínhamos
esperança, nem mesmo, consciência de uma libertação, até recebermos a pregação do
evangelho do Senhor Jesus. Quando entregamos nossa vida a Cristo, reconhecendo-O como
nosso Senhor e salvador, nossa sorte foi restaurada e recebemos a promessa de morarmos na
Sião Celestial. Foi um momento único e extasiante, ficamos também “como os que sonham”. A
alegria de receber a Cristo é indizível, incomensurável, única e eterna.
Passada essa consideração sobre a condição de Judá antes do exílio, entenderemos melhor a
reação do compositor do Salmo 126 que, certamente, foi um dos exilados que voltaram a Sião.
No verso dois ele faz um contraste à condição que viviam os judeus junto aos rios de Babilônia:
“Então nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo;”. A reação do salmista e do seu
povo foi uma expressão de alegria e júbilo, tal como nossa reação quando tivemos um encontro
com Jesus e obtivemos uma restauração espiritual que mudou o nosso viver.
Entre as nações se comentava sobre a restauração de Judá à sua pátria, dizendo: “Grandes coisas
o Senhor tem feito por eles” (Sl 126.2b). Jerusalém se encontrava em ruínas, os muros
derribados, as portas queimadas e os remanescentes que, não foram exilados, se achavam em
grande miséria e desprezo (Ne 1.3). Ademais, as nações vizinhas de Judá, sobretudo os
samaritanos, tentaram impedir a reconstrução da cidade, do templo e dos muros, conforme
vimos nos relatos de Esdras e Neemias.
Fato análogo se verifica na história da igreja, desde sua fundação. A resistência ao povo de Deus
sempre foi marcante, tanto na história de Israel como na da Igreja. A intervenção milagrosa de
Deus na restauração e no livramento do seu povo, tem marcado muitas nações ao longo da
história. O salmista conclui sobre os feitos pretéritos de Deus na restauração do seu povo à sua
terra: “com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres” (Sl 126.3).
No entanto, devemos considerar que as glórias do passado não devem ser motivo para nos
estacionarmos no presente, mas sim, um impulsionador que nos desperte para novas vitórias.
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