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“Então, Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse:
Subamos animosamente e possuamo-la em herança; porque,
certamente, prevaleceremos contra ela. ” (Nm 13:30)
Pr Ricardo Eugênio
O que fazer diante de um problema insolúvel, de uma missão impossível? Quais as alternativas devem ser tomadas ante uma situação improvável? O episódio ocorrido em Cades, no deserto de Parã (Nm 13:26), de onde Moisés despediu doze habilidosos e experientes guerreiros para espiarem a terra de Canaã, nos traz maravilhosos exemplos de como devemos nos posicionar diante de obstáculos que, à primeira vista, nos parecem instransponíveis.
Vários sinais miraculosos o povo de Israel já havia presenciado, como as dez pragas do Egito, a provisão e manutenção divinas no deserto, o maná diário, a nuvem refrigerante durante o dia e a coluna de fogo à noite, roupas e sandálias que não se desgastavam, transformação de águas amargas em águas doces, abertura do mar Vermelho, destruição de Faraó e seu exército nas águas do Mar Vermelho, a voz retumbante de Deus no Monte Sinai, que tremia e fumegava, a duas tábuas de pedras contendo os dez mandamentos, escritos pelo dedo de Deus (Êx 31:18).
Já havia se passado um ano e um mês, desde a saída do Egito e, aproximadamente, um ano acampado junto ao monte Sinai, onde o Senhor dera a Sua lei e demais mandamentos relacionados a cerimoniais, sacerdócio e o culto solene.
O livro de Números (gr. Aritmói; Hb. Bamidbar – “no deserto”) possui esse nome em homenagem aos dois censos determinados pelo Senhor (Cap 1 e 26), na “Versão dos Setenta”, ou Septuaginta. No primeiro censo determinado pelo Senhor, o povo de Israel se encontrava acampado no deserto do Sinai (1:1, 2), a cerca de 500 Km, aproximadamente, da terra prometida (Canaã). A data dos eventos transcorridos em Números se refere ao período entre 1443 a 1406 a.C, um ano após a saída do Egito.
No primeiro censo o Senhor Deus ordenou que fossem contados todos os homens das tribos de Israel (exceção à de Levi), de vinte anos para cima, capazes de saírem à guerra, o que totalizou 603.550 homens, afora mulheres e crianças; o censo dos Levitas totalizou 22.000 homens, de um mês para cima. Estima-se que ao todo seria entre dois a três milhões de pessoas.
Devido aos pecados desse povo no deserto, a maioria dos que saíram do Egito não entraram em Canaã (1Cor 10:1-10). Os filhos de Israel já haviam se rebelado contra Deus, pelo menos, dez vezes, desde a saída do Egito até a despedida dos espias (Nm 14:22). No tocante aos homens, principalmente, apenas dois dos que saíram do Egito entraram na terra prometida (Nm 32: 11, 12). A geração que nasceu no Egito sucumbiu no deserto, apenas a geração que nasceu no deserto entrou na terra prometida.
No segundo censo, mesmo já tendo se passados quase quarenta anos de um povo nômade numa terra estéril, o Senhor o sustentou e o prosperou. Tanto é verdade que nesse novo censo o número de homens caiu apenas 0,3% em relação ao anterior, passando de 603. 550 para 601.703 (Nm 26:51, 62) e levitas passou de 22.000 para 23.000, mesmo com a morte de dezenas de milhares de homens, devido à desobediência aos ordenamentos divinos e rebeliões contra Deus e a liderança por Ele designada.
O episódio ocorrido com os espias de Moisés pode nos trazer as seguintes lições:
1) Antes de uma grande conquista, o Senhor nos recomenda a realizar uma grande
estratégia (13:1, 2). Não se entra numa batalha sem planejamento estratégico.
2) O planejamento estratégico deve ser realizado por líderes, por pessoas maduras e experientes (13:2b). A ordem do Senhor a Moisés foi para que esses homens “espiassem” a terra e para isso Moisés disse àqueles que lhe trouxessem um relatório sobre o povo, se forte ou fraco, pouco ou muitos; se a terra é boa ou má, fértil ou estéril, se há matas ou não; se as cidades são de arraiais ou fortalezas; e que lhe trouxessem provas do fruto da terra, uma vez que se tratava da época das primícias das uvas (13:18-
20).
3) Nem mesmo os homens mais habilidosos e experientes estão preparados para enfrentar as mais difíceis batalhas, se não mantiverem sua fé no Senhor. Os espias foram escolhidos dentre os maiorais das 12 tribos de Israel (13:2, 3).
4) A obediências às estratégias da liderança é o primeiro passo para o sucesso; a fé e a determinação de alcançá-lo garantirão a conquista. A ordenança de enviar os 12 espias dentre as tribos de Israel à terra de Canaã foi dada por Deus a Moisés (13:2, 3). Moisés, no entanto, deu-lhes a estratégia de passar pela
banda do Sul de Cades e subir à montanha, bem como a trazerem relatório das características da terra, de seus moradores, das cidades em que habitam e amostras do fruto da terra (13:17-20). Todos os espias cumpriram as recomendações de Moisés, contudo, a maioria deles (10) esmoreceram-se da fé na conquista diante do que presenciaram, mesmo comprovando tratar-se de uma terra que mana leite e mel, conforme tinha dito o Senhor (13:2,27)
5) A forma como enxergamos um desafio pode implicar seriamente na nossa capacidade de enfrentá-lo. Nesse caso, a fé fará toda a diferença. No relatório que os 10 espias apresentavam a Moisés eles externaram grande desmotivação e falta de fé, ao descreverem o poderio das cidades e de seus moradores, diante dos quais se sentiam impotentes e pequenos como gafanhotos (13:28, 31-33). No entanto, 2 espias tiveram uma visão diferente dos demais, pela fé que os alimentavam na promessa da conquista (14:6-9). Fato semelhante ocorreu com Davi, que diante das afrontas de Golias, enquanto todo
um exército de israelitas recuava amedrontado, encarou o desafio de lutar pela fé, “em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel” (1Sm 17:45), desta forma logrando êxito na batalha.
6) A falta de fé da liderança (obreiro) expõe e revela incapacidade diante de grandes desafios. “Não poderemos subir contra aquele povo pois é mais forte do que nós” 13:31; “A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores” 13:32; “Também vimos ali gigantes (…) e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos” 13:33
A ordem aos espias foi para espiar a terra e trazer o relatório ordenado por Moisés, seu líder. O parecer sobre a impossibilidade de vitória emitido pelos líderes de cada tribo foi uma demonstração clara de falta de fé, como consequência do medo que lhes abatera, ante ao testemunho ocular do poderio e grandeza dos adversários. “Os tímidos e medrosos” não herdarão o Reino dos Céus (Ap 21:8), ou seja, não entrarão
na Canaã Celestial.
7) A falta de fé de alguns líderes (obreiros), diante de um grande desafio ou crise (14:1-4), pode ser contagiante e provocar no povo de Deus (hoje a Igreja) as seguintes reações:
- Espanto, tristeza, medo e desespero; v. 1
- Murmuração v.2
- Sentimento de fracasso e desmotivação: “Tomara tivéssemos morrido na terra do
Egito ou mesmo no deserto” v.2 - Descrença no Senhor, mesmo após terem presenciado a intervenção divina durante
o êxodo, com a milagrosa saída do Egito, e os nunca vistos milagres no deserto v.3; - Desejo de abandonar a promessa de tomar posse da terra de Canaã (salvação) e
voltar ao Egito (mundo): “Não seria melhor voltarmos ao Egito?” v. 3; - Insubmissão, divisão e contenda: “E diziam uns aos outros: levantarmos um capitão
e voltemos ao Egito” v.4. - A fé da minoria crente nem sempre é levada em consideração pela maioria
descrente;
8) Obstáculos instransponíveis podem ser superados pela fé nas promessas de Deus Vide o encorajamento de Josué e Calebe, em reação às murmurações do povo, inflamadas pela visão e parecer dos 10 espias descrentes, em 14:6-9
9) Deus condena as atitudes precipitadas de líderes que desestimulam o Seu povo, levando-os a atitudes de desânimo, descrença, insubmissão e rebeldia (14:29-30).
10) Pela décima vez, desde a saída do Egito, o povo de Israel havia se rebelado contra Deus, o que motivou a decisão divina de não permiti-los tomar posse da herança prometida (14.23). Nossas atitudes de rebeldia podem provocar a ira de Deus, apesar de sua infinita misericórdia, desta forma nos afastando de suas bençãos, inclusive da salvação.
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